Especialistas e pescadores apontam soluções urgentes e cobram medidas imediatas das autoridades
A Câmara Técnica de Pesca e Aquicultura do Comitê de Bacia Hidrográfica Lagos São João (CBHLSJ) realizou uma reunião emergencial para discutir a situação crítica da Lagoa de Araruama. O encontro contou com a participação de pescadores, especialistas e representantes do poder público, que alertaram para a iminência de um colapso ambiental semelhante ao de 1999.
Diante do diagnóstico preocupante, a CT Pesca definiu um plano de ação com medidas emergenciais para conter a degradação da lagoa. Entre as principais decisões estão:
•Cessar a emissão de esgoto in natura nos pontos críticos, especialmente no Canal Mossoró e Baixo Grande;
•Blindar canais de macrodrenagem para evitar o despejo de resíduos na lagoa;
•Implementar um plano de dragagem permanente para remoção de lama e algas;
•Reutilizar a água de efluentes para áreas rurais, minimizando o impacto no ecossistema.
A reunião destacou ainda a necessidade de fiscalização rigorosa sobre despejos clandestinos e a importância da participação ativa dos órgãos ambientais na fiscalização e execução das medidas propostas.
Estudos apontam que a alta concentração de nutrientes provenientes de despejos de esgoto é um dos principais fatores para a proliferação de macroalgas, impactando diretamente a qualidade da água e a fauna local. O Ministério Público Federal notificou as prefeituras e concessionárias de água e esgoto para que expliquem a origem da poluição e apresentem medidas de contenção.
Mobilização e Reivindicações
Na Praia da Baleia, pescadores organizaram um abaixo-assinado para pressionar os governantes a tomarem medidas urgentes. Segundo Paulo César, mais conhecido como Azeredo, presidente da associação de pescadores da localidade, “as pessoas só lembram da lagoa quando ela entra em declínio, mas ela precisa de atenção constante. Ela é fundamental para o turismo e a economia da região, é nosso meio de sustento, afinal o pescador sem o peixe não é nada!”, afirma Azeredo. Os profissionais relatam que a captura de pescado está cada vez mais difícil, comprometendo a economia local.
A advogada Thalita Mallmann, presente nas reuniões na Praia da Baleia, destacou a importância da mobilização popular e a necessidade de ação rápida: “A sociedade civil organizada tem um poder muito grande. Se as autoridades não tomarem medidas concretas, uma ação civil pública pode ser proposta para garantir a preservação da Lagoa de Araruama”.
A Lagoa de Araruama é reconhecida como a maior laguna hipersalina em estado permanente do mundo, sendo fundamental para o turismo e a economia da região. Contudo, a falta de saneamento básico adequado e a exploração imobiliária desordenada estão colocando em risco esse ecossistema tão valioso.
“Nós avisamos que a Lagoa ia colapsar. Estávamos vendo a água mudar, a coloração da água mudar. Os pescadores precisam se unir, só com a nossa união teremos força e voz para que sejamos ouvidos”, desabafa o pescador Moisés Gomes de Oliveira.
Com a mobilização dos pescadores e da população, a esperança é que as autoridades implementem soluções concretas e sustentáveis. A comunidade local segue vigilante e determinada a evitar que a história de degradação ambiental de 1999 se repita.
Os próximos meses serão decisivos para o futuro da Lagoa de Araruama. O meio ambiente, os pescadores e toda a população esperam uma resposta à altura da gravidade da crise.